_Somente cinco, para trinta.

Ela rabisca, como de costume, desejando uma nova ideia. Em vão, os vários traços e pequenos círculos de sempre dominam o papel como se ilustrassem a confusão que ali habita. Aquela jovem moça se esbarra na ânsia por tudo querer, mas nada poder. A impotência de criar ideias que apenas preenchem o vazio das folhas antes em branco, que jamais passam de meras anotações. A vontade, as vezes intensa, se afunda no dia a dia em meio a turbulenta pressão do tempo que voa e não lhe permite se dedicar ao que gosta, a não ser ao sono de noites mal dormidas tentando se encontrar em uma realidade paralela através dos sonhos.
            Em meio a crise econômica, ela se depara com a existencial. Talvez seja o peso dos seus vinte e cinco anos que já soam apenas como aqueles cinco, que faltam para chegar aos trinta. E então, se atropela com tantas cobranças na mente.
            Ela por vez se questiona. Seria a hora de desistir dos antigos anseios e viver a tal rotina estereotipada por todos - ou quase todos - aqueles ditos "normais"?
            O tempo vai passando e a idade pesa, mas nada a assusta tanto quanto as decisões que precisam ser tomadas. Ela fraqueja por não saber escolher. Pensa em cursar a pós-graduação, casar e ter filhos, além da incessante busca de uma estabilidade financeira e daquele emprego que poderá lhe render uma gorda aposentadoria. Na verdade, ela queria mesmo era estar naquela porcentagem de pessoas que, diferentes dela, se encorajam - ou seguem sem coragem mesmo - pela busca de seus objetivos.
            Faz planos e pensa que talvez aquela ocupação inicialmente com baixo salário, que lhe trará inúmeras dores de cabeça e a redução ainda maior das boas noites de sono, se auto compensarão quando observar os resultados. As horas perdidas, batendo cabeças e amassando rascunhos,  poderão então findar-se em produtos que nenhum valor irá pagar. As histórias, os lugares, as pessoas, deixarão de ser tão chatas. Tudo pode de fato se enquadrar no que lhe parece fazer sentido. Outrora, a moça pensa nas contas que certamente somarão, mas que podem ser subtraídas com alegrias fragmentadas multiplicadas aos milhares que abraçarão a mesma causa.
            Viajar, dirigir, filmar. Ver todos aqueles rabiscos transformados em poesia contada através de câmeras, imagens e sons. Ver o nascimento de personagens que trarão uma nova vida a ela mesma. Ouvir na calada da noite, palavras de que somente a primeira tomada fora concluída e que a locação não poderá se estender. Mentalizar, exaustivamente que o tempo pare e o cansaço seja compreensivo. Afinal, a continuidade da cena precisará ser feita e o instantâneo deverá ser o mais alegre segredo para que as coisas fluam.

            Como as mesmas palavras que se esboçam no papel após incidentes tentativas de criar e desenhar as incríveis linhas incansáveis, já é hora da moça se despedir e se conformar com seus pequenos devaneios. Pequenas escapadas de um cotidiano que certa vez fora traçado pelo incrédulo medo de arriscar. De se jogar. De ser feliz. De quebrar a cara. De botar tudo a perder, mas ao longo do tempo, somente ganhar.  Vai moça, corre em busca dos teus sonhos.

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